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Teoria do Drible no prisma da Neuropsicologia


          O poeta já dizia: "...tabelou driblou dois zagueiros, deu um toque, driblou o goleiro,... O drible é uma das magias do futebol. Todos os torcedores esperam de seus ídolos mais habilidosos meios desconcertantes de deixar o adversário sentado no chão. Mas tanta criatividade nos movimentos é fruto de construções complexas de nosso cérebro. Um bom driblador planeja, analisa possibilidades e se reorganiza rapidamente para passar pelo adversário. É a partir desta idéia que vamos entender como funciona o drible no cérebro.




          O lobo frontal é uma estrutura cortical de fundamental importância para o desempenho do atleta. É através dele que percebemos, analisamos, planejamos, prevemos o resultado e executamos qualquer tarefa que nos é apresentada. Este conjunto de ações realizadas pelo lobo frontal é chamado de funções executivas¹.
         Outro fator importante na execução de um movimento é a prontidão motora; ou seja, o quanto o indivíduo está preparado na instância biofísica (musculatura, ossatura, etc.) para efetuar o movimento que suas funções mentais executivas ordenaram ao corpo².
          Peguemos o exemplo do drible no futebol: um jogador corre com a bola em direção ao defensor adversário. Primeiro ele processa as informações visuais. Depois analisa a situação em diversos fatores: posicionamento do defensor no campo, sua própria localização no campo, a velocidade com que se dirige para o defensor, posicionamento dos companheiros de equipe no campo, se há ou não outro defensor dando cobertura e inúmeros outros fatores que poderiam ter uma relevância no contexto espaço-temporal. O atleta então irá planejar a estratégia a ser utilizada a fim de atingir o objetivo de passar pelo defensor: poderá ser através de um drible simples apenas colocando a bola ao lado do defensor ou até mesmo um drible complexo como um elástico ou um lençol. Ainda no nível cortical, utiliza o processamento de áreas como o córtex órbito-frontal para uma perspectiva futura do movimento³: “se eu jogar a bola do lado esquerdo do defensor, ele não vai alcançá-la a tempo e passarei”. Graças às conexões parieto-frontais, ligando esse emaranhado cognitivo às áreas motoras, as informações seguem por uma via aferente até a junção neuromuscular e finalmente o atleta efetua o drible. Vale destacar que todo esse processo ocorre com muita rapidez.
          As funções executivas, bem como o tempo de reação, podem ser treinadas por diversos métodos: desde a execução repetida da tarefa proposta, até o treinamento mental de diversas situações diferentes4. Existem ferramentas importantes para o desenvolvimento das funções executivas de um atleta, como o Biofeedback, o Neurofeedback, jogos cognitivos e técnicas psicológicas específicas, como o relaxamento e a visualização.
         A neurociência aplicada ao esporte, bem como as famosas neurotecnologias, podem ser implementadas ao trabalho dos demais profissionais (treinadores, profissionais de educação física, e psicólogos do esporte, entre outros) na formação e no treinamento de atletas, pois sua intervenção se manifesta na interação entre processos psicológicos (como emoções, atenção e interpretação), biológicos (como a eletrofisiologia, a modulação hormonal e imunológica) e eventos externos (transdução sensorial).

Referências:
1 SABOYA, Eloísa; FRANCO, Carlos Alberto & MATTOS, Paulo. Relações entre processos cognitivos nas funções executivas. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. Número: 51(2) pp.91-100, mar-abr 2002.
2 GOBBI, Lilian Teresa Bucken; PIERUCCINI-FARIA, Frederico; SILVEIRA, Carolina Rodrigues Alves & CAETANO, Maria Joana Duarte. Núcleos da base e controle locomotor: aspectos neurofisiológicos e evidências experimentais. São Paulo, SP: USP. Revista Brasileira de Educação Física Esportiva. 2006.
3 Wrase, J. et al. Different neural systems adjust motor behavior in response to reward and punishment. NeuroImage, 36 (4): 1253-62. 2007.
4 KOLB, Bryan & WHISHAW, Ian Q. Neurociência do Comportamento. 1ªed. Barueri, SP: Editora Manole. 2002.
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